Nos últimos anos, um fenômeno silencioso — mas crescente — vem ganhando força entre adolescentes e jovens adultos, inclusive no Brasil: a ansiedade climática, ou ecoansiedade. Esse tipo de angústia emocional nasce da percepção de que o futuro do planeta está ameaçado e de que as ações tomadas até agora ainda são insuficientes para conter o colapso ambiental. Mas afinal, por que esse sentimento atinge com tanta força os mais jovens?
Uma Geração Informada — e Exposta
A geração Z e os jovens millennials cresceram conectados. Desde cedo, tiveram acesso a redes sociais, documentários e reportagens sobre crise climática, queimadas, desastres naturais e colapsos ecológicos. Diferentemente de gerações anteriores, esses jovens não apenas ouvem falar do problema — eles veem, compartilham e vivenciam seus efeitos em tempo real.
Além disso, essa geração demonstra ser a mais educada ambientalmente da história. No entanto, quanto mais entendem sobre o problema, mais percebem a lentidão das ações governamentais e corporativas. Como resultado, cresce a sensação de impotência diante da inércia dos responsáveis por grandes decisões. Essa lacuna entre consciência e ação se revela um gatilho poderoso para a ansiedade climática.
Quando o Futuro Parece Incerto
Expressões como “ponto de não retorno”, “colapso climático” e “sexta extinção em massa” passaram a fazer parte do vocabulário cotidiano dos jovens. Ao ouvirem constantemente que o planeta tem apenas algumas décadas de estabilidade se nada mudar, muitos começam a questionar seus próprios planos de vida.
Nesse contexto, perguntas como “vale a pena ter filhos em um mundo instável?” ou “faz sentido investir numa carreira tradicional se o planeta está à beira do colapso?” não são exageros — são reflexões reais que surgem em rodas de conversa, redes sociais e fóruns online.
Dados que Confirmam a Tendência
Uma pesquisa internacional publicada pela revista The Lancet, com mais de 10 mil jovens, revelou dados alarmantes:
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59% se sentem extremamente preocupados com a crise climática;
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45% relatam impactos diretos desses sentimentos em sua vida diária;
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75% afirmam enxergar o futuro como algo assustador.
No Brasil, a situação não é diferente. Eventos extremos como enchentes, secas e queimadas deixaram de ser estatísticas distantes — tornaram-se experiências vividas por milhares de famílias. Portanto, a ansiedade climática deixa de ser uma ideia abstrata e se torna um sentimento concreto e cotidiano.
O Peso da Responsabilidade Desigual
Por outro lado, muitos jovens relatam carregar o peso de uma responsabilidade que consideram injusta. Enquanto empresas e governos seguem com práticas insustentáveis, cabe a eles — os cidadãos comuns — reduzir consumo, reciclar, evitar plásticos e comer menos carne.
Essa lógica gera frustração e esgotamento. Afinal, como transformar o mundo apenas com ações individuais, se o próprio sistema colabora com a destruição ambiental?
Como Lidar com a Ansiedade Climática?
Apesar de tudo, é possível transformar esse desconforto em mobilização. Uma das formas mais eficazes é buscar informação de qualidade, evitando conteúdos alarmistas ou sensacionalistas. Além disso, participar de projetos coletivos, ativismo ambiental e ações comunitárias pode dar propósito e direcionamento ao sentimento de angústia.
Cuidar da saúde mental também é essencial. Conversar com amigos, buscar apoio psicológico ou participar de grupos com interesses semelhantes pode ajudar a reduzir o isolamento e a sensação de impotência.
Da Angústia à Ação Consciente
A ansiedade climática não é apenas um reflexo do medo — é, acima de tudo, uma expressão do cuidado e da consciência ambiental. Os jovens não ignoram o futuro; pelo contrário, se importam profundamente com ele. Por isso, reconhecê-los como protagonistas da mudança é essencial. Transformar angústia em ação é o caminho para um amanhã mais sustentável e justo.